O certo é que ele veio até nossa roda. Todas pararam para observar o intruso que se aproximava. De repente, entre olhares assustados, uma mão estendida. Eu? Essa mão é para mim? Sim! Já vínhamos trocando olhares entre as aulas de matemática e português. Um olhar inocente, de admiração, carinho e gentileza. Mas não imaginava que o garoto tímido de olhos verdes teria coragem para se aproximar de mim.
Nos dias que se seguiram, ficávamos juntos, conversando na hora do recreio. Durante as aulas trocávamos recadinhos que iniciavam e terminavam sempre com um desenho de um coração torto com nossas iniciais. Em duas semanas estávamos de mãos dadas.
Todos os dias, rosas em papel eram deixadas em cima da minha mesa. Alternadamente, vinham juntas balinhas de chocolate – era o que conseguíamos comprar com nossa mesada. Trocávamos poemas de autores famosos em que não entendíamos quase nada do conteúdo, apenas buscávamos pela palavra-chave: amor.
Semanas se passaram até o dia em que, de susto, recebi meu primeiro beijo. Virava o rosto para olhar para a rua e ganhei algo confuso entre o gosto de biscoito de chocolate e o suco de uva em caixinha. Olhos abertos, braços esticados, lábios colados. Pronto. Eu, 11 anos de idade, descobria ali o quanto é bom gostar de alguém.
Aquele foi um dos poucos beijos que se seguiram no nosso namoro. O que mais nos importava era estarmos perto um do outro, trocar confidências e juras de amor e dividir as impressões de um mundo que descobríamos juntos, e beijar – ah, beijar!
Namoramos por alguns meses até que ele foi transferido para outra escola. Na despedida, no portão do colégio, trocamos promessas de jamais esquecermos um do outro. Ele levou junto meu primeiro coração partido e deixou comigo a magia inesquecível do primeiro beijo. Outros vieram depois dele, mas a promessa feita no portão me segue até hoje.
Nessa ternura toda, quem poderia dizer que jamais amou alguém por uma vida toda?
ResponderExcluirVou reblogar, se não se importa.
Estará em diariodakiro.blogpost.com
Um grande abraço, Mel.